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DE MACUNAÍMA À RODRIGO JANOT: A EVOLUÇÃO DO HERÓI NACIONAL


                                            O Brasil nem sempre teve uma boa relação com os heróis, quando se tratava de extrair uma figura de super-herói do imaginário brasileiro saíram figuras hilárias como “o Quebra Queixo”, “A Velta” “O Capitão Brasil” dentre outros, como por exemplo, a “Liga dos Heróis Verde Amarelos” que prontamente lutavam contra o Mr. Carnaval. Talvez esse meu primeiro parágrafo soe um pouco como antipatriota, mas o texto de forma geral é uma auto- demonstração otimista de minha parte quanto à nossa evolução no que tange ao conceito de heroísmo pátrio de nossa nação. Leia ate o final, você vai se divertir e talvez concordar comigo.

Na literatura brasileira, quem prestou bem atenção nas aulas da professora sobre o período modernista e da Semana da Arte Moderna no Brasil com certeza se deparou com a figura de Macunaíma (1928) do escritor Mario de Andrade, um índio herói brasileiro que representava o povo com sua cultura, língua, costumes e malandragem própria. Até aí tudo bem, pois esse era um período de rompimento do movimento artístico literário do Brasil da década de 30, que tentava desvincular o consumo de arte que até então era quase 100%  importado da Europa, pelo consumo de nossa própria arte vivida e fabricada no Brasil e nossa própria literatura, seria a “auto antropofagia”, nossos escritores agora passavam a exportar cultura para outros países, inclusive a Europa, ao invés de ser apenas os consumidores.

O problema nesse caso é que esse nosso índio herói representante da nação, que agora era lido e conhecido pelo mundo afora além de malandro, preguiçoso, não gostava de política, era conformista e pra tudo dava um jeitinho. Nascia ali o famigerado “jeitinho brasileiro”. A frase clássica da obra Macunaíma é “Ái que preguiça!”, dita pelo personagem ao chegar a São Paulo e se deparar com a “máquina” mercantilista. Num jogo linguístico a expressão “aique” que na língua indianista significava preguiça, com a competência na escrita de Mario de Andrade, nos possibilitou a compreensão de que o herói era duplamente preguiçoso. Esse era o nosso herói moderno brasileiro. Alguns teóricos literários tentaram amenizar a situação chamando-o de “o anti-herói”, ou seja, o herói que não é herói, mas isso não colou.

Em 1942, Walt Disney, em uma turnê pelo Brasil durante a segunda guerra mundial, criou um herói para representar nossa nação, seria um elo entre os estúdios Walt Disney com o Brasil, pra isso teriam que fazer nascer um personagem que fosse o estereótipo do brasileiro visto por alguém de fora. Nasce então Joseph Carioca, o Zé Carioca, foi mostrado como um personagem divertido, festeiro, vagabundo e preguiçoso, reforçava ali a concepção deixada por Mario de Andrade. E vejam um pequeno detalhe no contraste, o personagem Tio Patinhas fora criado em 1947 para representar o Norte Americano, inclusive se nota pelas cores azul e vermelha de sua roupa representando a bandeira dos EUA, uma figura bem sucedida, ambicioso, de boa postura e bem relacionado. Na versão Disney são filhos de uma mesma América, porem com ambições bem distintas.

Mas nem tudo se perdeu no cenário da vanguarda brasileira, o movimento literário cresceu e muito, mas a compreensão tanto intelectual quanto popular da figura do herói tomou proporções ainda maiores, graças a Deus. No limiar do século 21, o filme “Tropa de Elite I e II” (2007/ 2010) do produtor José Padilha, ganhou dimensões apoteóticas, sendo por muito tempo o filme nacional mais assistido dentro e fora do Brasil. Em seus volumes um e dois, o filme retrata a guerra do Comando da Polícia de Táticas Especiais do Rio de Janeiro contra o crime organizado. O Capitão Nascimento com certeza não se enquadraria no conjunto dos “politicamente corretos”, tratava o seu oficio de manter a ordem e a segurança pública até as ultimas consequências, dava tapa na cara de bandido, ameaçava policiais que manchavam a corporação  e jogava políticos corruptos na cadeia. Em poucos dias de exibição nos cinemas o filme alcançou recordes de bilheterias jamais vistos, a crítica já o aclamava como o novo herói brasileiro. Mas não parou por aí.

Outro dia, assistindo ao jornal e aguardando a tão esperada lista dos 54 envolvidos no escândalo da Petrobras, eu tentava me inteirar um pouco mais do assunto que é atualmente o mais falado nas rodas e redes sociais, quando de repente o jornalista exibiu uma foto de alguém que segurava um cartaz com os seguintes dizeres: “JANOT, VOCÊ É A ESPERANÇA DO BRASIL”, fiquei me perguntando, “quem é esse tal Janot, que estão dizendo que é a minha esperança e eu nem o conheço?”. Só aí pude perceber que se tratava do Procurador Geral da República, que está a frente do caso “Lava-Jato” e que na ocasião detinha em suas mãos a lista dos 54 envolvidos no processo Operação.
Depois de Joaquim Barboza se aposentar fazendo pose de herói e ganhando a aclamação popular, e aqui não estou sendo irônico, ele não fez nada mais que sua obrigação de julgar e condenar os culpados pelo mensalão, mas convenhamos, há muitos que não fazem ou fizeram nem isso, então ele nesse caso é de fato herói. Agora é a vez do procurador geral da república ser o herói que também não faz nada mais que sua obrigação, por isso, não deixa de ser herói, mas haverá um dia no Brasil, em que os que são pagos (e muito bem pagos) para exercerem esse oficio farão suas obrigações conforme a cartilha, e aí surgirão os heróis fazendo o algo a mais. Mas por enquanto Capitão Nascimento, Joaquim Barbosa e Rodrigo Janot é o que tem pra hoje!

 

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