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Mostrando postagens de março 5, 2014

UM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA E A ESCURIDÃO

A vida de Clara parecia a placa de memória de um computador com infinitas capacidades de armazenamento em giga bytes. Era religiosamente programada e fiel a esse cronograma. Clara acordava todos os dias no mesmo horário, sem precisar despertador. Às seis da manha, ligava seu rádio à pilha bem baixo para não incomodar o marido. Do rádio se ouvia a voz rouca de um locutor que dizia:  - “Hora da Ave Maria!”.  Ela colocava as peças de roupa suja na bacia, ligava a torneira, enquanto jogava no bojo do tanque os restos do café de ontem, e colocava a agua pra ferver. O Manuel padeiro gritava: - “Pães frescos!” – Ela imediatamente pegava e os colocava a mesa já cortados e com manteiga. O marido acordava as Sete e Quarenta e Cinco e já encontrava tudo posto à mesa, roupas passadas e uma mulher distante em pensamentos, mas de uma prontidão de invejar as freiras. Quando o marido batia as portas às costas, para ir trabalhar, Clara lavava as roupas, limpava a casa, tratava do