
É tradicionalmente celebrado
nesse dia o aniversário da Igreja católica, pois, estando os discípulos de portas
fechadas por dois motivos, trancados com medo da repressão dos judeus por serem
apóstolos daquele que haviam crucificado, e trancados em oração por ordem do
próprio Cristo ressuscitado que havia lhes ordenado que permanecessem em
Jerusalém, unidos em oração até que se cumprisse a promessa do envio do
paráclito. De repente o Espirito impetuoso adentrou a sala e lhes encheu com a
sua força, com o fogo que reanima e os deu coragem para prosseguir a caminhada
na história. O trabalho dos discípulos a partir daí ganha notoriedade entre os
judeus e passam a se reunir em pequenas estruturas de comunidades.

É pertinente pensar em
pentecostes neste contexto, sobretudo nesse tempo solene em que comemoramos
cinquenta anos após o encerramento do Concílio Vaticano II, esse que foi sem
dúvidas o maior e mais importante evento da era moderna. Para bem celebrar essa
festa do jubileu, o então Papa Bento XVI proclamou o ano da fé e convidou toda
a Igreja a estudar o CVII concedendo até mesmo premiação de indulgencias a quem
o fizesse. Acredito que o papa com a sua lucidez filosófica sabia do que esse
convite significava. Estudar o Concílio Vaticano II, numa era de tanta
facilidade de acesso a conteúdos e de tantas ferramentas de buscas
informatizadas significava cutucar o vespeiro de fervorosas abelhas. Sabendo
disso Ratzinger implica sobretudo aos jovens a não terem medo de estudar o
Catecismo da Igreja Católica, que nada mais é que um compendio das principais
resoluções teológicas e pastorais do CVII.
Gosto muito de ler o CVII através
do olhar de Ratzinger, que foi o teólogo mais importante e influente desse evento,
sendo um dos auditores durante e depois como Papa Bento XVI, foi o maior
interprete e divulgador do seu verdadeiro espirito. Se pentecoste é o oposto da
confusão de Babel, Vaticano II é a materialização de pentecostes. É claro que não
quero me atrever a denunciar que antes do CVII reinava a confusão de Babel, mas
não podemos negar que por esse sínodo, o Espirito torna inteligíveis as
“línguas estranhas” no seio da Igreja. Do ponto de vista linguístico o fenômeno
da “filocalia” ocorrida em pentecostes fora de extrema necessidade para a
difusão da embrionária religião cristã, além de estabelecer a harmonia entre os
envolvidos naquela problemática.
O Cristo havia ressuscitado e
essa informação deveria sair da pequena cidade de Jerusalém para ganhar o mundo,
e o primeiro muro capaz de impedir essa investida seria o idioma. Se não há
comunicação, jaz a confusão. Se não fora pentecostes, a novidade da
ressurreição estaria vedada a um pequeno grupo que com pouco tempo minguaria
podendo chegar à extinção e esquecimento. Sem contar na brilhante estratégia de
marketing. Estavam ali os Medos, Alamitas, os Capadócios, os Cretenses e
Árabes, se a mensagem chegasse inteligível a eles, e esses voltassem entusiasmados
para suas comunidades, com maior facilidade ganhariam o mundo conhecido na
época.
Foi o que ocorreu a partir de 62, não é por
menos que o CVII não tratou de condenar nada e não fora um concílio dogmático,
mas um concílio pastoral. Muito temos ainda que mergulhar em sua compreensão e
na riqueza de seu conteúdo, não desfrutamos nem o mínimo do que propusera os
padres conciliares. Depois de cinquenta anos podemos já colher alguns frutos,
porem nunca podemos perder de vista que é só o começo. Como o fenômeno de
pentecostes, o Concílio Vaticano II ainda tem muito a nos dizer.
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