É claro que se trata de uma paráfrase de um dos versículos dos evangelhos
canônicos, minha intensão não é abranger a opinião no campo religioso, que
parece não ter muito prestígio acadêmico, mas a citação que faço está dentro da
analise do discurso, essa ferramenta linguistica que tanto nos ajuda a
compreender os coteúdos dos ditos, dos não ditos e dos préditos. Essa sentença
foi dada por Jesus, num contexto em que literalmente tentavam calar o
cristianismo ainda em seu estado embrionário, ou seja, nos três primeiros anos
de ministério de Jesus. A estratégia abortiva de Herodes tinha dado o seu mais
importante passo, haviam decapitado João Batista o percussor dessa “nova”
religião e tramavam planos para emboscar e crucificar o seu idealizador, Jesus
Cristo. Então o Mestre proferiu em alto e bom tom: “Se calarem a voz dos
profetas as pedras falarão!”.
Se observarmos o contexto bíblico deste versículo perceberemos que Jesus não
condenava as pedras por falar, e ao que me consta, nem mesmo condenava o
conteúdo de sua fala. A frase foi direcionada em forma de ameaça aos opositores
dizendo que a verdade nunca se calaria, mesmo que tivesse de usar artifícios
extra-ordinários, ou seja, na hipótese de não haver oficialmente quem
fale, as pedras exerceriam esse divino ofício. Porém se partirmos para uma
interpretação mais pastoral da sentença, veremos que a frase é muito mais uma
exortação aos profetas que se calam do que uma ameaça aos silenciadores.
Pastoralmente o Cristo quer que o seu discípulo jamais se cale, evitando que as
pedras abram a boca, e como dizia um amigo, não deve ser agradável ouvir a
elaboração de uma prosopopeia de robustas pedras.
Tendo em vista essa exegese bíblica apartir da análise do discurso, no
contexto atual estamos presenciando um terrível confronto social entre aqueles
que querem elaborar projetos de leis e discursos que na interpretação do
cristianismo, ferem a dignidade da família e vai de encontro a uma deterioração
camuflada do projeto de Deus a favor da vida humana segundo as escrituras. Anexo
a esse embate, assistimos uma “bancada” expoente se posicionar contra essa
artimanha politica, dentre eles encontram-se os citados evangélicos, Pr. Marco
Feliciano, Pr. Silas Malafáia e Jairo Bolsonaro.
Vale lembrar que esses homens defendem um conceito que a Igreja católica
ultrapassa dois milênios defendendo e se posicionando, e o seu discurso têm
ganhado uma proporção tão grande na mídia que até parece que são só eles "os
evangélicos" que são contra. O que coloco em questão não é o conteúdo de suas
defesas, como foi visto acima, Jesus não condenou as pedras por falar e nem tão
pouco o conteúdo do seu discurso, até porque, não se ouve nenhum deles dizendo
que o homossexual não tem os seus direitos como qualquer outro, direitos de
defesa, de saúde, direito de compor renda com o parceiro e etc, isso seria
condenado, o que se vê são questionamentos quanto ao conteúdo do projeto de lei,
que em alguns aspectos evidencia um grupo de pessoas, e fere os direitos já
estabelecidos de outros.
O que quero evidenciar é que essas vozes independentemente, não podem ser
considerádas as vozes oficiais de uma comunidade que tem mais de dois mil anos.
Enquanto os católicos estão calados, esses discursos estão sendo elaborados por
uma instituição que apesar de não ter competência histórica se deixam entender
dessa forma, e se auto declaram como a “voz do cristianismo”.
Acredito que quem deveria se posicionar com mais veemência e menos risco de
más interpretações e expressões pré-concebidas quanto a essas questões tão
necessárias ao desenvolvimento humano é a Igreja Católica Romana, que têm dois
mil anos de história e uma bibliotéca com centenas de milháres de autores que
discorreram sobre diversos assuntos dentro do comportamento humano em todos
esses anos. Esses números lhe daria competência histórica suficiente para
elaborar um discurso mais pautado na experiência adquirida ao longo dos anos do
que na superficialidade teórica como tem sido feito. Não quero julgar que tudo
que está sendo dito por essas vozes esteja errado ou esteja certo, mas também
não posso negar que há erros graves em sua colocação, em sua pedagogia e na
estrutura discursória a qual essa defesa está sendo veiculada.
Caro leitor, termino dizendo com
toda propriedade que a Igreja tem experiência de sobra, e com certeza já
defrontou com inúmeras situações em que precisou de um posicionamento firme e
adequado e foi eloquente em seu discurso podendo assim contribuir para o melhor
e mais saudável desenvolvimento humano. Vejo que o silencio dos católicos
enquanto expressão laical é devido ao medo de ser tido como retrógrada ou ultrapassado,
e esse texto quer encorajá-lo a se posicionar com destemor e a ser profeta em
meio a tantas tentativas de imposição de projetos imediatistas e ante igreja
deste sistema político, nosso atual Papa Francisco tem se valido de sua
incrível aceitação popular para apresentar essa verdade da Igreja e tem nos
representado muito bem, porém, é importante que também nós os leigos nos esforcemos
neste sentido de abranger para além da hierarquia a proposta de reafirmação do
casamento natural e na defesa “pró-vida” segundo o evangelho.
Abraço a todos!
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