o sobre desencantos e desencontros
- Alô? Pôxa vida, não consigo entender por que
você está me ignorando à dias... eu só queria que você me atendesse! Me dê o
retorno vai? Preciso falar contigo!
Uma hora depois.
- Ei tudo bem? Como foi seu dia? Tive um
dia incrível, estive com os editores e eles me pediram pra terminar o último capítulo do livro, pra entregar na próxima semana, estou bem empolgado! Me
retorna pra gente conversar! Beijos!
Duas horas depois.
- Oi, como foi sua tarde? Espero que esteja
tudo bem. Me liga, quero compartilhar com você sobre o desfecho do conto que
estou escrevendo. Sabe aquele personagem complexo que nunca conseguia ganhar o
coração da amada, porque ele não conseguia falar de outra coisa senão de seus
devaneios filosóficos? Então, acho que vou transformá-lo em um personagem mais
descontraído, descolado, o que você acha? É porque os editores me pediram um
final feliz, diferente de todos os outros 20 personagens que escrevi... me liga
vai, beijos!
O dia passou frenético e
outras inúmeras mensagens de vóz foram deixadas na caixa postal de Ana, além
das dezenas de mensagens de textos enviadas pelo aplicativo, sem nenhum
retorno.
Marcus estava inconformado com o término do namoro, mas não tinha
perdido a esperança de ao menos poder explicar pra ela que estava disposto a
mudar. Mas o ultimo capítulo de seu novo livro era prioridade, então mergulhou
na noite fria daquele Março sombrio, no ímpeto de adiantar o quanto lhe era
possível o último capítulo para entregar aos editores.
- Oi?
Mal aquela notificação
chegou em seu smartphone, era Ana. Marcus num ímpeto tomou o aparelho que
estava conectado a tomada de energia e logo respondeu.
- Ei Ana, que bom falar contigo estava ansioso
por esse momento, tenho muitas coisas pra lhe falar!
- Marcus, já te falei, não quero mais
conversar, se continuar terei que te bloquear. Por favor não insista... acabou!
- Mas Ana, vamos ao menos conversar? Ana? Ana?
...
- Ana, você ainda esta ai?
...
- Poxa vida Ana!
Beirava as 02hs daquela
madrugada fria, Marcus cansado do grande dia, adormeceu com o aparelho
smartphone nas mãos e nem deu tempo de salvar o texto escrito no computador. A
quinta feira lhe reservava grandes emoções em sua primeira reunião com o
redator.
As 09h15 ele desperta,
recolhe o aparelho que havia caído ao chão do quarto, e nem percebe a tela
trincada com a queda e já abre o aplicativo de mensagem.
Marcus digitando...
- Oi Ana... Sonhei com você hoje! Geralmente as pessoas
normais têm dois anjinhos na cabeça, um anjinho bom e um anjinho mau que ficam
se degladiando em pontos extremos do pensamento. Eu tenho três! Quando acordei,
formou-se um colóquio entre eles à cerca desse sonho:
Disse o primeiro anjo: - É porque
você está apaixonado.
Disse o segundo anjo: - fala
sério! Você está tão apaixonado que até sonhou com ela, que mancada!
Por fim, veio o terceiro anjo:
- Relaxa, Freud explica
isso. São apenas reflexos neuroconcientes, como ela foi a última pessoa com
quem trocou mensagem ontem, o subconsciente entende que vocês ainda estão se
comunicando e transporta essa realidade para os sonhos.
Ana digitando...
- Esta vendo Marcus, é por isso que você me perdeu!
Desisto de vez!
Marcus foi bloqueado...
nota: a expressão
marcusiana é um termo relacionado as ideias do filósofo da linguagem Herbert Marcuse
(1898-1979). Há uma disputa por emancipação entre os filósofos e linguistas,
uns afirmam que o teórico alemão e um filosofo, outros o defendem como
linguista. Ele também e conhecido por ter combinado elementos considerados
libertários nos pensamentos marxista e freudiano, e cuja reflexão política e
social exerceu grande influência nos movimentos contestatórios dos anos 1960.
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