Uma reflexão sobre a tríplice
missão do leigo na família, Igreja e sociedade.
Outro dia, enquanto me arrumava
para um compromisso na igreja, fui abordado por minha filha que me interrogou: “–
Papai, você vai sair de novo?”. E quando eu ia responder, ela mesma sentenciou
com a resposta: “- Já sei... nem precisa dizer, você vai pra igreja né?”. Tenho
uma filha de 06 e um filho de 04 anos, e apesar do tom meio moleque daquela
indagação de menina eu vi que havia um pouco de verdade em sua reivindicação e
logo tratei de me esquivar da situação para tentar amenizar o impasse, e olha
que pessoalmente me preocupo muito com isso, tento me organizar o máximo
possível para não deixar que meus compromissos sociais, profissionais e eclesiais
impactem em minha relação dentro de casa, em meu sagrado tempo para com os meus
filhos e a esposa, mas essa pequena me fez refletir um pouco mais no papel do
leigo na igreja, família e na sociedade. É sobre isso que vamos discorrer nesse
texto.
O atual papa emérito Bento XVI em
seu discurso por ocasião do V Encontro Mundial das Famílias em 08 de Junho de
2006 na cidade de Valência na Espanha, iniciou dizendo que “a família é o
ambiente privilegiado, onde cada pessoa aprende a dar e receber amor” e essa estrutura
não deve ser substituído por outros elementos que não seja o pai, a mãe e os
filhos, é nesse ambiente que a criança recebe todo o amor que o influenciará por
toda a sua trajetória de vida.
Infelizmente nos dias de hoje é
normal se vê que os pais terceirizam a educação na fé de seus filhos e colocam
inteiramente aos encargos do catequista e da catequista, quando na verdade, a
fé deve ser transmitida no berço e o papel do catequista deveria ser apenas um
suporte nesse processo e nunca o substituto do que faltou dos pais. Devemos
pensar que uma boa educação na fé, promove não somente novos membros para a
igreja no futuro, mas indivíduos com suas vidas conformadas ao evangelho para
uma sociedade tão carente de bons exemplos como a nossa. Quanto a isso, o papa
disse no mesmo discurso, “A família é uma instituição de mediação entre o
indivíduo e a sociedade, e nada pode substituir totalmente.”.
Queira Deus
que os filhos contemplem mais os momentos de harmonia e afeto dos pais e não os
de discórdia e distanciamento, pois o amor entre o pai e a mãe oferece aos
filhos uma grande segurança e ensina-lhes a beleza do amor fiel e duradouro. (V
ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS, 08 de Junho de 2006. pag. 13).
No discurso do sumo pontífice
fica bem claro que a família é esse celeiro onde deve brotar a espiritualidade
para que os filhos se inspirem cada vez mais a partir da profissão de fé dos
pais e assim por diante, e ele chama a atenção para os empecilhos internos que
ameaçam essa harmonia familiar. Se é verdade o que se afirmou, muito mais o é
de se afirmar que o exercício pastoral e a colaboração na comunidade eclesial
como leigo não pode nunca afastar o pai ou a mãe de sua missão principal que é
a transmissão da fé no âmbito familiar, sobretudo para os filhos. Essa
preocupação deve ser levada em consideração ainda mais quando os filhos são menores,
na primeira infância, e ainda não têm maturidade o suficiente para entender que
a ausência dos pais naquele momento é para o bem de um terceiro ou da
comunidade, isso pode gerar certo sentimento de aversão à participação e
integração numa comunidade de igreja no futuro, pois estará escrito em seu
repertório mental que igreja é essa “coisa” que afasta pais de seus filhos.
No livro de Provérbios, o autor sagrado nos adverte:
“Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele
não se há de afastar.” (Pr. 22,6). Para finalizar nossa reflexão, faço lembrança
do testemunho de São João Paulo II, esse que fora amplamente citado no referido
discurso de seu sucessor Bento XVI. Conta-se que ele se decidiu pela vida
consagrada, e sucessivamente a ir para o seminário quando, iniciando os
primeiros anos da adolescência, flagrou numa noite de insônia, e sem querer viu seu
pai de joelhos no chão em oração, naquela madrugada decidiu que seria padre. Outro exemplo belo é daquele jovem médico, que se viu num intrépido chamado a vocação de cuidar da vida ao lembrar dos afagos da mãe quando lhe era acometido de uma pequena gripe, com este se faz menção aos inúmeros de bons profissionais no mundo e na sociedade inspirados pelos bons exemplos e momentos passados junto dos pais.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário, sua opinião é muito valiosa para mim. Um forte abraço!