“Com Jesus renasce sem
cessar a alegria” (pag. 2) Assim inaugura sua encíclica, o Papa Francisco,
indicando que essa seria a marca de um novo tempo para a evangelização revelando
novos caminhos para o percurso da Igreja para os próximos anos. Todos se sentem
acolhidos pelo convite de voltar às alegrias evangélicas, que está na busca e
doação pelo outro, sobretudo o pobre, deixando de lado todo tipo de
individualismo que nos cega e distancia da misericórdia.
O texto de Francisco tem a
preocupação de contextualizar a expressão da alegria desde o antigo testamento
até os tempos messiânicos, onde desemboca sua maior expressão em Jesus Cristo e
em sua salvação. O profeta Isaías prenuncia a superabundância da alegria da
salvação na pessoa do Cristo que há de vir e o saúda com regozijo «Multiplicaste
a alegria, aumentaste o júbilo» ( Is. 9,2). Zacarias o recebe como o dia do
Senhor e na figura de Rei que vem humilde sentado num jumento. O pontífice
ressalta que é no profeta Sofonias é que o Cristo se manifesta como o centro
irradiante de festa e alegria.
“Enche- me de vida reler este texto: «O Senhor, teu
Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua
causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa»
(Sf. 3,17)”. (pag. 5)
No novo testamento, mais precisamente no evangelho,
onde resplandece a gloriosa cruz de Cristo, nos convida insistentemente à
alegria rompendo de vez com o apego à melancolia, não necessariamente a cruz
está ligada ao sofrimento e a tristeza, foi por ela que o Salvador nos arrancou
a alegria eterna. Maria, através da visita do anjo Gabriel é a primeira a ter
acesso ao “Alegra-te”, que posteriormente se tornará para todos os crentes as
beatitudes do “sermão da montanha”, o texto ainda cita os evangelistas Lucas,
João, Marcos e Mateus, e os personagens Isabel, a prima de Maria, e as diversas
expressões de alegrias presentes no evangelho, bem como, a alegria do pastor de
encontrar a ovelha perdida, nos Atos do Apóstolos, a alegria do Eunuco ao ser
batizado dentre outros.
“Há cristãos que parecem ter
escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa.” (pag. 04).
A alegria não é nunca uma manifestação
de emoções superficiais, ela deve está bem centrada e enraizada na fé, os
sofrimentos não podem nos levar ao desespero, que semanticamente significa a
perda da esperança (des – esperança) nem também deve nos tirar da realidade. O
papa nos conta que em toda a sua vida, presenciou experiência de pessoas
encontrarem a verdadeira alegria, ainda que em meio à pobreza, da vida difícil,
pessoas que entre correria pelas buscas de realizações profissionais,
emocionais, e financeiras darem testemunho de uma verdadeira paz centrada na
fé.
É neste contexto que o
pontífice aproveita para citar o seu predecessor, papa emérito Bento XVI, que
resume a verdadeira vida em Cristo, numa belíssima frase: «Ao
início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte
e, desta forma, o rumo decisivo.» (pag. 5). Com a citada frase de Bento XVI,
Francisco sentencia que somente através desse encontro que não é um evento, e
sim uma pessoa, é que se pode alcançar a verdadeira felicidade, e é através
dele é somos resgatados de nossa consciência isolada e egoísta e assim chegamos
a ser plenamente humanos.
1.
A
doce e reconfortante alegria de evangelizar
“O bem tende sempre a se comunicar.” (pag. 6) o
centro da verdadeira ação evangelizadora proposta nesta encíclica está no
romper-se com a com todo o isolamento e individualidade e ir ao encontro do
outro, na missão. Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo
e no isolamento.
“De
facto, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e
se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais.» 4 Quando a Igreja faz
apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que indicar aos cristãos o
verdadeiro dinamismo da realização pessoal: «Aqui descobrimos outra profunda
lei da realidade: “A vida alcança-se e amadurece à medida que é entregue para
dar vida aos outros.” Isto é, definitivamente, a missão.” (pag. 6)
Percebe-se que o documento quer traz a idéia de que
a evangelização não é um cumprimento de deveres e obrigações, nem mesmo um
missão de multiplicar adeptos à religião, é uma busca de realização, a partir
do encontro com Cristo que se manifesta no outro. Só é plenamente feliz aquele
que fez essa experiência de doação espontânea, consequentemente o evangelizador
não pode ter uma cara de funeral, ele divulga a vida e não a morte, deve-se
recuperar e aumentar o fervor de espirito, ainda que as sementes sejam semeadas
entre lágrimas, na esperança da colheita entre risos e festa.
2.
A
nova evangelização para a transmissão da fé
O texto remete o leitor para a XIII Assembleia
Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos em 2012, na ocasião refletiu-se sobre a
nova evangelização para a transmissão da fé em três âmbitos:
ü No âmbito
da pastoral ordinária: Evangelização dos fiéis, O Fogo do Espirito Santo que
anima
e alcança os fiéis que participam frequentemente do culto, sem esquecer
dos que não são tão frequente, mas conservam uma fé católica intensa e sincera.
ü No âmbito
do convite aos irmão separados, aqueles que são batizados, mas não vivem a
exigência do batismo. Não se sentem pertencentes de forma cordial à maternidade
da Igreja. Ela se esforça para devolver a alegria da fé a esses que não mais se
comprometem com o evangelho.
ü E por
fim, No âmbito da pregação do evangelho aos “pagãos”, muitas aspas nesta
expressão que o pontífice se recusou em usá-la, preferiu expressões mais
singelas como, “os que não conhecem Cristo, ou o recusaram” esses também
merecem ser evangelizados, apesar de buscarem secretamente deus em outros
rostos, e vivem a nostalgia de não encontrar.
O pontífice ainda ressalta que conhecer o Evangelho
de Cristo é direito de todos, e anuncia-lo ao mundo é o dever do cristão. Essa
evangelização não pode nunca ser um mero proselitismo, mas um convite a um
banquete, uma atração. Neste contexto a encíclica cita as palavras do então
Beato João Paulo II que nos convidou a reconhecer que não devemos perder a
tensão do anuncio, que é tarefa primária da Igreja. “A causa missionaria deve
ser a primeira de todas as causas” (pag. 10).
O pontífice reconhece que a carta não pretende ser
resposta definitiva para a missão e solução de todos os problemas existentes em
todo o vasto território da Igreja, que é universal, outros problemas que não
foram citados devem ser profundamente estudados e propostos por cada bispo que
conhece de perto a realidade da igreja local, apesar disso, não poupou de fazer
alguns apontamentos importantes de serem citados, os quais seguem relacionados:
a) A reforma da Igreja em saída
missionária.
b) As tentações dos agentes
pastorais.
c) A Igreja vista como a
totalidade do povo de Deus que evangeliza.
d) A homilia e a sua preparação.
e) A inclusão social dos pobres.
f) A paz e o diálogo social.
g) As motivações espirituais para
o compromisso missionário
Para o
pontífice esses sete aspectos citados acima, não querem ser um tratado teórico,
mas desenham bem o perfil do evangelizador almejado pela Igreja.
A
transformação da Igreja numa Igreja missionária, esse é o grande cerne da
inspiração papal para a referida encíclica, fazer constantemente a experiência
do “Ide”, uma Igreja em saída de si mesmo em busca do outro. A alegria dos
discípulos ao saírem na missão dos setenta e dois, culmina na alegria de
pentecostes, ao ouvirem todos falarem e se entenderem numa única língua. A
Igreja em saída é uma Igreja de discípulos missionários. A dinâmica evangélica
da missão é encurtar distancias.
“Sonho com uma opção missionária
capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a
linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à
evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas,
que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com
que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas
as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes
pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta
positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade.”
A
paróquia não deve ser uma estrutura caduca que não seja aberta às novidades do
dinamismo do Espirito, ela possui um plasticidade que à permite assumir
diferentes formas, e isso requer a docilidade e a criatividade do pastor e da
comunidade. A diversidade da Igreja é uma verdadeira primavera da nova
evangelização, mas não pode jamais negar a experiência de paroquia e igreja
particular.
“As outras instituições
eclesiais, comunidades de base e pequenas comunidades, movimentos e outras
formas de associação são uma riqueza da Igreja que o Espírito suscita para
evangelizar todos os ambientes e setores. Frequentemente trazem um novo ardor
evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja. Mas
é muito salutar que não percam o contacto com esta realidade muito rica da
paróquia local e que se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja
particular”. (pag. 17
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário, sua opinião é muito valiosa para mim. Um forte abraço!