Com base em algumas reflexões que tenho feito sobre a
urgência da evangelização para os nossos dias, e em contrapartida com algumas objeções
quanto ao importante papel do leigo nesse processo, encontradas na internet,
qual partem de uma teologia sacramentalista e centralizadora, que por vezes se
afirmam representantes fiéis da ortodoxia católica, podemos pensar em Priscila
e Áquila, figuras importantes para a propagação da fé cristã nas comunidades
paulinas, já na era primitiva do Cristianismo. O primeiro aparecimento desses dois personagens no contexto
bíblico está em Atos dos Apóstolos (18, 1ss.) onde relata a passagem do
apostolo Paulo por Corinto vindo de Atenas e se hospeda na casa do casal que
acabara de ser extraditado devido o decreto do imperador Claudio que expulsara
alguns judeus da Itália por terem aderido à mensagem de “Cresto”. No versículo
três e quatro relata que o ofício do casal era o artesanato, fabricantes de
tendas tal qual Paulo era e isso deve ter sido o motivo da proximidade, exerciam
a mesma profissão durante os dias úteis e aos Sábados iam juntos para as
sinagogas converter os judeus. (At, 18. 4).
Ainda no capítulo 18, Priscila e Áquila encontrará com Apolo,
um carismático pregador da Alexandria que provavelmente se instruíra nos
caminhos do Senhor através da leitura das escrituras sem passar pelos
ensinamentos dos apóstolos. O casal terá uma participação essencial no processo
de formação de Apolo conduzindo-o aos ensinamentos genuíno dos apóstolos. A partir
desse momento o novo pregador foi ter com os discípulos em Acácia e “ali chegando,
foi pela graça de Deus de muito proveito para os fiéis.” (v. 27b).
Papa emérito Bento XVI, em audiência no dia 07 de Fevereiro
de 2007 quando ainda em seu pontificado, falando aos presbíteros em Roma, citou
o cônjugue como o modelo de vida cristã e o seu papel importantíssimo
desempenhado no âmbito da igreja primitiva, isto é de receber na própria casa
os cristãos locais, quando eles reuniam para ouvir a Palavra de Deus e a
Eucaristia.
“...
graças à fé e ao compromisso apostólico dos fiéis
leigos, de famílias, esposos como Priscila e Áquila o cristianismo chegou à
nossa geração. Podia crescer não só graças aos Apóstolos que o anunciavam. Para
se radicar na terra do povo, para se desenvolver vivamente, era
necessário o compromisso destas famílias, destes esposos, destas comunidades
cristãs, de fiéis leigos que ofereceram o "húmus" ao crescimento da
fé.” PAPA BENTO XVI, AUDIÊNCIA GERAL QUARTA-FEIRA,7 DE FEVEREIRO 2007.
A partir dessa exegese o sumo pontífice nos convida a sermos também testemunhas
do reino a exemplo de Priscila e Áquila, não somente como “igreja doméstica”
que é a função de todos fiéis leigos constituídos em famílias, mas também como colaboradores
na formação e no direcionamento em caráter extraordinário, sempre quando
necessário, como fizera o casal ao judeu Alexandrino.
Ao contrário disso, sempre há por aí uma teologia centralizada no
clericalismo que afirma que o leigo tem o papel de mero expectador/ovelha e
que a função de evangelizar é estritamente sacerdotal, alguns até apontam o
protagonismo leigo como o principal sintoma da crise eclesial dos nossos
tempos. Não há que se negar que é função ordinária e primária do presbítero, e que ao casal está empregada a função peculiar de cuidar e educar
os filhos na fé, porem, dizer que os leigos estão proibidas tais funções é forçar a barra, é dar uma interpretação erronia ao Magistério,
atropelar a Tradição e relevar as Escrituras em seus diversos episódios onde
relatam testemunhos de seguidores de Cristo e dos Apóstolos que ao terem um
encontro com o Evangelho passaram imediatamente anunciar a boa nova.
Essa visão teológica questionada reforça ainda mais a ideia que transita o universo do senso comum, onde o leigo é colocado quase na mesma linha do insignificante, como também acontecia no ambiente secular, sobre a figura do "aluno", que semanticamente significava (a = negativa, luno = luz) ou seja, "sem luz" aquele que está nas trevas e que somente ao professor está impressa a função de o trazer a luz. Depois de vários estudos no campo da pedagogia houve um considerável avanço, essa prerrogativa fora descartada, hoje se reconhece que no ambiente escolar o aprendizado é recíproco, o professor ensina mas também tem algo a aprender com os aluno. Na questão do leigo não se trata de um avanço na compreensão semântica simplesmente, é a busca do verdadeiro significado da dimensão de leiga como protagonista em comunhão com o clero.
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