Tentarei
uma reflexão crítica do ponto de vista teórico sobre a Missa da Consciência Negra,
como sistema de cotas e a tentativa de ser o principal instrumento de
inculturação e inclusão social nas comunidades católicas. Em minha formação
acadêmica tive o privilégio de ser membro da primeira turma do curso de Letras
do Unileste a ter na grade curricular as disciplinas Literaturas Negras e Africanas
que passaram a ser obrigatórias no auge das discussões dos movimentos de
negritude e contra as desigualdades raciais. Tive a oportunidade de me
especializar sobre gêneros, raças e etnias na pós graduação e atualmente
iniciei minha dissertação para o Mestrado sobre a construção do conceito de
raça já no período colonial através dos sermões de Padre Antonio Vieira. Tentarei
contribuir nesse texto com os meus conhecimentos de Teologia Pastoral e Moral católica agregados a esses
conhecimentos teóricos de minha pesquisa acadêmica para revermos nosso
posicionamento quanto a essa prática.
Para termos um breve histórico, o dia da consciência
negra é comemorado em todo o Brasil no dia 20 de Novembro, algumas regiões têm
esse dia, como parte principal das atividades da semana da consciência negra
que se inicia no dia 16 até o dia 25 de Novembro. A data comemorativa vem
ganhando força cada vez maior pelo país como um forte marco das reflexões sobre
a agenda das políticas públicas das desigualdades entre negros, pardos e mestiços.
Não há dúvidas que essas reflexões são necessárias para os nossos dias, temos
uma dívida histórica com o negro, o fim da escravidão no Brasil, que chegou atrasado
em relação ao mundo, não significou nem de longe o reconhecimento e a reparação
das inúmeras perdas que foram impostas à população negra desde esse período.
Ainda é dramática as condições de oportunidades de trabalho para a mulher negra
e aumentam os números de homicídios contra esse tecido da sociedade.
Há uma
tentação em se pensar que os sistemas de cotas para negros em escolas
universitárias e outros setores da sociedade é uma solução suficiente para
sanar as dívidas com a população negra, na verdade essa é uma ação reparadora
do problema existente, como um medicamento para uma ferida já aberta, apesar de
todos os benefícios há de se reconhecer que essa ação política não age na raiz
do problema. A raiz do problema é muito mais profunda, está nas consciências,
que ainda insistem em mascarar o preconceito, a discriminação e o sentimento de
superioridade da cor branca sobre o negro. Sem contar que esses indivíduos são
evidenciados muitas vezes nas salas de aulas como “os bolsistas” ou “cotistas
negros”. Se as mentes não mudam as opiniões e sentimentos racistas, esses
universitários sairão das universidades graduados e ainda vítimas dos mesmos
preconceitos de outrora.
Essa mesma
ideologia está subentendido na prática pastoral de se celebrar Missas da Consciência
Negra, mesmo que não tenham a intenção expressa, a Igreja com isso, está reconhecendo uma tentativa de reparação dos
excessos e das incompreensões quanto a cultura e os costumes do negro africano em
sua colonização e na catequização em terras de Santa Cruz, tentando assim inculturar os
seus costumes, credos e sua cultura ao culto católico. O que muitas vezes não
se leva em consideração é que a Santa Missa
não é o lugar apropriado, ela é um ato
solene com que os católicos celebram o sacrifício de Jesus Cristo na cruz,
recordando a Última Ceia. A
missa é uma particularidade da religião católica não deve nunca conter qualquer
fragmento sincretista, nela todos nós batizados somos chamados e acolhidos como
filhos, sem privilégios e sem desigualdades. A Congregação Para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos, através de seu documento “Redemptionis sacramentum” (nos parágrafos 183 e 184) recomenda que o
culto eucarístico jamais sofra adequações para evidenciar um grupo ou outro e
muito menos sirva como palco de reinvidicações políticas seja em qualquer
esfera, é o que o documento chama de favoritismo, a missa não é do negro, não é
do branco, não é do sertanejo, é de todos nós batizados.
A Consciência Negra
pode e deve ter seu espaço garantido para as reflexões nas comunidades
eclesiais, não precisa ser somente no mês de Novembro, e deveria ser criado
espaços de debates, mesas redonda ou simpósios abordando a temática, mas em
outro momento que não seja a Santa Missa, e mais do que isso, como testemunhas
dos ensinamentos de Cristo devemos ser os primeiros a renunciar qualquer tipo
de marginalização do negro, auxiliando-o a superar o atraso social devido aos
prejuízos desde a escravidão inserindo-o na vida eclesial e social.
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