Para escrever esse artigo eu
peço uma licença poética à esplendorosa dama Teologia, essa que considero a mãe
de todas as ciências, apesar da tenra idade jovial e a ausência de pretensão de
o ser. Tratarei de falar sobre a morte divagando em outras teorias que também
são interessantes ao desenvolvimento do pensamento, mesmo que em algum momento
não deva ser levado tanto a serio.
A morte é e sempre será o maior enigma da
humanidade, marcado pela incerteza de quando ela virá, o que será e pra onde
nos levará. Ao redor da morte o homem criou a religião para tentar explica-la
ou tentar justifica-la e em alguns momentos para sobreviver apesar dela.
Se pensarmos na teoria
evolucionista, o homem de Neandertal teve que se deparar com a morte a mais de
200 mil anos, na era do gelo. A escassez de carne dos seres vivos que era
acostumado a caçar fez com que essa espécie homo evolutiva procurasse outros
tipos de alimentos na planície e passou a ser também vegetariano além de carnívoro.
Para se esquivar da morte essa espécie descobriria centenas de anos depois dentre
esses vegetais as ervas que tinham poderes curativos e anestésicos contra as
feridas e as dores da difícil vida primitiva, mas também encontrou dentre
essas, outras ervas que o levaria a morte.
A morte é matéria prima para
os poetas e artistas de todas as épocas, a morte é perseguida pelos santos e
místicos, a morte é uma obsessão para os filósofos, a quem diga que quando o
homem descobre que vai morrer um dia, ele começa aí a ser filósofo, pois o filósofo
questiona tudo, menos a certeza de que um dia vai morrer. Que a vida (pelo
menos a vida carnal) é finita é a única certeza da filosofia, apesar dessa não
arriscar afirmar o que é a morte, sabe que de alguma forma ela existe.
Na literatura bioética a
morte é tratada como um problema é a terminalidade da vida, essa (a vida) que
para esse campo da ciência é uma verdadeira ambição, tem a morte como uma
ameaça sepulcral. Nesse campo de batalha terá sempre o confronto entre a
finitude da vida e o anseio pela eternidade ou longevidade da carne. (Paulo
Franco Taitson. 2012). Seria a ambição pela vida ou o medo da morte?
A morte é uma incógnita para os filósofos e para os
teólogos, porem esses dois atores se posicionarão frente a ela de forma
completamente distinta. Ambas reconhecem que um dia, não se sabe quando, onde
ou para onde o levará, o homem se deparará com a morte. Para o filosofo a morte
é o fim, é quando o sujeito dá seu ultimo suspiro, quando o cérebro elabora seu
ultimo pensamento, é quando o coração dá sua ultima batida e quando os ouvidos
escutam a ultima canção e o corpo já inerte se despede da vida. Para o teólogo a
morte não é bem assim, a morte seria uma espécie de portal para uma outra vida,
ao morrer o indivíduo ganha carácter de eterno, se vai o corpo, a carne e
“fica” a eternidade da alma, dependendo da moral e do comportamento, o local
que essa alma passará a eternidade será definido entre “céu ou inferno”, ou
seja, eternamente feliz o desgraçadamente infeliz.
Neste contexto... só neste contexto... eu fico
dividido entre a filosofia e a teologia. Enquanto a filosofia observa a vida,
tendo em vista a hipótese da morte, o ator sabe que essa vida será a única
oportunidade que terá para ler todos os livros possíveis, escutar todas musicas
possíveis, ter e abraçar todos os filhos possíveis, e em suma, ser feliz o
quanto antes, até que a senhora morte apareça com sua foice e determine a
terminalidade de sua existência. Aí já era. Não dá mais tempo. Tudo acabou. Por
outro lado o teólogo passa a vida a observar a morte e deslumbra a
possibilidade de ser feliz depois dessa vida. E está propenso a viver uma vida
inteira de infelicidade conformista, porque sabe que a plenitude da vida está
no desprender da carne para a eternidade da alma.
Talvez tenhamos tempo ainda
de aprender com os monges antes que chegue o nosso fim. Cada religioso que adentra
o mosteiro é persuadido à compreensão da morte do ponto de vista filosófico e
teológico. Não sei se por essa virtude, é sabido que há um costume entre eles
de viverem em constante e solitária reflexão sobre a vida, e quando um encontra
com o outro dentre as paredes da abadia, um diz: “Mementos moris!” ao passo que
o outro responde: “Carpe diem!”. Uma expressão do Latim que quer dizer “vais
morrer!” e o outro responde na mesma língua “aproveite o hoje!”. Talvez esse
costume monástico seja a junção entre o filósofo e o teólogo. Se só temos o
hoje, devemos aproveitá-lo ao máximo, e o amanha será depois, ainda que
eternizado só será depois.
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