Nota: Artigo Escrito por Gustavo Nogy ao blog Ad Hominem: Um excelente texto de um exclarecimento considerável acerca das opiniões que circundam a eleição de Papa Francisco I, geralmente proveniente de grupos tradicionalistas católicos! Vale ressaltar que, de minha parte, apontar os perigos desse "tradicionalismo" que vem exercendo apostolado através das mídias sociais e sites de relacionamentos não significa um rompimento e muito menos diminuição de valor da Tradição Católica (isso mesmo! escrita com T maiúsculo!) de minha parte, essa que acompanhada da Sagrada Escritura e do Sagrado Magistério compreende a verdade católica que têm meu apreço e por ela dou minha vida. Minha exortação é justamente quanto ao que o autor chama com muita propriedade de Livre Interpretação da Tradição lincada ao que somente a história foi testemunha, a Sola Scriptura de Martinho Lutero que por consequencia adveio o protestantismo. Sem mais adendos introdutórios, o texto se encarrega dos pormenores. (Claudio Roberto da Silva)
TREZE DE MARÇO, o Papa Francisco mal
começou a esquentar a cátedra e os benfeitores de sempre já acharam meios e
motivos para murmurar. O cardeal Bergoglio é conservador de menos. O cardeal
Bergoglio é ecumenista demais. O cardeal Bergoglio, afinal de contas, é
argentino e torce para o San Lorenzo.
Só há uma coisa pior para a Igreja do
que os ateus, militantes ou não: é o advento dos tradicionalistas,
para todos os gostos e todas as mesquinhezes, mais papistas que o Papa,
certíssimos de suas crenças e de seus rigores. Não lhes passa dúvida alguma no
coração, nem por um segundo. É tamanha certeza que não pode haver tamanha
certeza. Certezas assim inabaláveis só as têm os soberbos. Em todo crente
sincero há um recalcitrante que teme – e faz bem em temer – a falta de fé.
Pedro negou a Cristo três vezes. O resumo da história: hoje, Pedro é Francisco.
Desde o fim do Concilio Vaticano II,
inúmeros grupos, com maior ou menor grau de influência dentro da Igreja,
cultivam, com meticulosa disciplina, o nobilíssimo hábito de apontar as falhas,
os pecados e as fraturas internas do clero. É mais ou menos como se você
tivesse por costume espalhar, para os vizinhos, todos os defeitos de sua mãe.
Mas não basta que eles saibam: eles têm de se convencer de que sua mãe, de uns
tempos pra cá, anda longe de ser mulher de respeito. Sua mãe virou mulher da
vida. E apontar-lhe as faltas em público é prova da própria santidade.
Tais grupos quase não fazem outra
coisa: corroem a Igreja e provocam pequenas dissensões doutrinais. São
insuperáveis na arte de lançar suspeitas sobre quaisquer católicos que
porventura não sejam tão católicos quanto eles. E é impossível, eu garanto, ser
tão católico quanto eles. Nem o Papa – para ser exato: nenhum Papa,
de 1965 pra cá – é tão católico.
A atmosfera que promovem é sufocante. A
fé morre por asfixia. O neófito toma contato com essas santas figuras e
percebe, muito rapidamente, que nunca há de contentar os gregos e os troianos.
Os muitos caciques para os pouquíssimos índios. Me lembro muito bem
quando, depois de algum tempo de empedernido ateísmo, tomei contato com tais
confrarias. No começo, tudo impressiona: eles devem ser inteligentes demais,
esclarecidos demais, perspicazes demais. Estão por dentro dos conclaves, dos
concílios e de toda a high society do Vaticano. No fim, tudo
enrijece: o caminho mais rápido para o ateísmo é dar ouvidos aos santos.
Ali, não Habemus Papam nunca. Ali, a fumaça é sempre preta.
Como as tradicionais bonecas russas, há
sempre tradicionalistas mais tradicionalistas dentro de outros grupos
tradicionalistas, e uns e outros nunca são tradicionalistas o bastante.
Acusam-se mutuamente com razoável frequência, mas todos, porém, concordam que o
Papa é o que menos entende do riscado. Ele tirou foto com os protestantes ou
ele beijou o muçulmano; ele andou conversando com judeus ou dando ouvidos a
socialistas. Fazem da suspicácia virtude teologal.
São sedevacantistas práticos. Nunca vão
admiti-lo, é evidente. Sabem das consequências de fazê-lo: o Código de Direito
Canónico está sempre à mão. Mas, como dizia certa vez meu amigo Rodrigo
Pedroso, se os protestantes inventaram o sola scriptura, os
católicos acharam por bem instituir a “livre interpretação da Tradição”. Como
ciosíssimos doutores da lei, eles interpretam os movimentos da Igreja – do
clero e dos leigos – com um cuidado bastante peculiar: ouviram dizer que “As
portas do inferno não prevalecerão”, mas nunca se sabe se o Espírito Santo está
mesmo atento.
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