Por Claudio Roberto da Silva
É comum casos em que a fundação
distancia do fundador, assim como a criatura do criador e assim por diante. Segundo
os teóricos da análise do discurso isso sempre vai acontecer enquanto o mundo
for mundo e o homem ter a capacidade de pensar, o qual, por conseguinte se
difere entre todos os animais terrestres. São situações em que um discurso é
proferido, ou escrito, e a partir de então o texto já não é mais de posse do
locutor e sim dos que dele se servirem. É claro que essa concepção é muito
válida na análise do discurso, e não possui prestigio no campo da religião,
sobretudo no catolicismo, pois nem sempre faz bem interpretações distorcidas do
original. Talvez seja o que tem ocorrido com o movimento dos tradicionalistas
liderados por Dom Marciel Lefebvre dentro da Igreja católica.
Considerado por muitos como o
maior e mais influente personagem tradicionalista pós conciliar, Dom Lefebvre,
causou diversas polemicas e incompreensões após se posicionar contra os
direcionamentos tomados pela Igreja católica a partir do Concilio Vaticano II e
algumas decisões tomadas pelo então Papa João XXIII que segundo ele levariam a
Igreja a abrir as portas para o modernismo dentre outros perigos mais. Ao que
nos parece Lefebvre apontava para um perigo pertinente dentro de uma caminhada
da Igreja para a atualidade, porem muitos vêem tal posicionamento ora como uma
aberração por discordar do CVII, outrora como se fosse um rompimento com toda a
Igreja.
Tais militantes consideram o concilio ecumênico como se fosse
culpado de tudo que ocorreu na Igreja nesses 50 anos, tal julgamento desconsidera
uma serie de outros fatores, como a própria história por exemplo. A Igreja não
é culpada do materialismo da modernidade ou dos exageros do humanismo. Num sínodo
se reuni bispos do mundo inteiro, teólogos e pensadores, justamente pra não
correr o risco de ficar na superficialidade dos fatos, visto que um Papa tem a consciência
que o que vai ser discutido ou definido ali influenciará o mundo inteiro e
diversas gerações posteriores.
Vale ressaltar que o CVII não foi
um concilio dogmático, dessa forma, não o dá o estado de infalibilidade, o que também
não justifica considerá-lo “anti-igreja” como alguns que se dizem Lefebvrista
afirmam por aí. O que se percebe é que muito ainda se deve estudar, dialogar e,
sobretudo, guardar o sentimento de unicidade com a Igreja Católica a qual o próprio
Lefebvre conservou até a morte, um zelo descomunal. Outro ponto que tem causado
polemica é que, Dom Marcel Lefebvre ao fundar a Fraternidade Sacerdotal São Pio
X, expressou o desejo de reunir seminaristas, sacerdotes e fiéis que queriam
continuar usando ordinariamente os livros anteriores à reforma do Vaticano II,
livros esses que se referem basicamente ao Missal sem as alterações do concilio
e do Papa João XXIII.
Ora,
seria uma atrocidade dizer que não se pode rezar Missas Tridentinas, ou Missas
que se rezavam até 1960. Seria o mesmo que jogar na lata de lixo toda a nossa
história de quase dois mil anos e considerar que nossos pais, avós e
antepassados estivessem condenados ao inferno por assistirem às Missas rezadas
em latim ou por outra liturgia que não é a de hoje. O próprio Papa Bento XVI no Motu Proprio Summorum
Pontificum declarou que em algumas situações a Missa
Tridentina que passou a se chamar forma extra ordinária do rito romano poderia
ser celebrada. O problema é que alguns grupos que se consideram
tradicionalistas, não somente querem ter o direito de celebrar a “missa de
sempre” como tem espalhado indignações e suposições em que somente essa seria a
válida, e que as Missas celebradas em vernáculo e com as alterações no Missal
seriam invalidas, inclusive colocam em cheque a autenticidade sacramental.
Sempre digo que os extremos, independente de qual seja a orientação do que se defende, são perigosos, neste caso,
dos que acham que não pode continuar a celebrar a "missa de sempre" em hipótese nenhuma e dos que acham
que é a única forma de celebrar desprestigiando a autenticidade da atual. Voltando teoria da análise do discurso é possível
a alguém ler sobre Dom Marcel Lefebvre, amá-lo, segui-lo, e ao mesmo tempo “odiar” o que
se tem dito sobre e a partir dele.
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